Disputar competições em final de temporada é sempre uma grande incógnita. Ainda mais quando há indefinições no elenco quanto às renovações de contrato ou quando já temos atletas acertados com outras equipes para o próximo ano. E se a competição não for interessante, ferrou !
Foi mais ou menos com este espírito que partimos para a disputa da superliga de 2006, realizada em Fortaleza. A gente veio de uma temporada desgastante, onde havíamos conquistado a liga nacional e o vice-campeonato estadual. Os atletas queriam saber de férias e não de bola pois a competição foi em dezembro.
Logo de cara tivemos a infeliz surpresa de que o hotel que alojaria as delegações participantes encontrava-se em estado deplorável. Pra falar a verdade, aquilo lá era um hotel quase desativado. Quartos ruins e quentes, elevadores com portas enferrujadas, localização numa área de risco e a comida... bem, no segundo dia de competição, vários atletas e membros de comissões técnicas apareceram pela manhã com diarréia, ânsia de vômito, etc.
A solução foi proibir os atletas de usarem gelo nos copos (não era filtrado) e só comer o "basicão".
Os refrigerantes servidos eram piores que purgantes. Marca Tabajara dava de 10x0 neles.
No início também recebemos a triste notícia de que o Gláucio de Castro (ex-treinador da ACBF) havia falecido.
Lembro de ter sido aconselhado por um PM a não correr sozinho e de relógio pela praia do Futuro pois poderia ser assaltado.
No hotel era uma zona só. Delegações circulavam e faziam as refeições sem camisa. Alguns atletas detonaram extintores de incêndio pelos corredores e outros escutavam funk a todo volume com as portas dos quartos abertas. Estava tudo liberado ! Teve até romance de atletas com camareiras. Aliás, parabéns para estes guerreiros pois as mesmas eram feias de doer. Nem na inscrição do trem fantasma seriam aceitas sob o risco de assustar demais as criancinhas !!!
Ah, também teve equipe que fez reunião para demitir atletas na frente de todo mundo.
Não classificamos nem para a semifinal e a Malwee acabou campeã do torneio.
No último dia (domingo) ficaram somente alguns atletas e alguns membros da nossa comissão técnica (eu e o Lambari, treinador de goleiros). Os outros haviam se mandado de férias.
Nosso vôo era somente uma da manhã de segunda-feira. Ficamos lá no hotel com cara de bunda, vendo a festa da Malwee. Então resolvemos fazer um churrasco nosso para descontrair um pouco. Havia um carinha cantando forró e mandando mal nos teclados e também tinha meia dúzia de equipes de veteranos que foram pra lá jogar um torneio.
A certa altura da festa o dono do hotel pegou o microfone e anunciou:
Antes que escrever as palavras dele, afirmo que existem testemunhas como o Danilo goleiro, o Leandro Cavalo, Vítor, entre outros.
"Muito obrigado pela presença de todos... blá blá blá... gostaria de informar que a partir deste momento todos os quartos estão liberados e quem quiser pode levar as camareiras junto !!!"
Bem amigos, depois de toda esta várzea, nosso táxi deu o cano e foi um sufoco para chegar até o aeroporto. Era época de caos aéreo e nosso vôo atrasou bastante o que causou um verdadeiro surto no irmão (o pivô Vítor).
Para vocês terem uma idéia, o cara estava pronto, de calça jeans num calor infernal, desde as 14h e a gente só saíria do hotel às 23h. Segundo ele mesmo disse era "pra passar o tempo mais rápido..."
Quando soube do atraso no nosso vôo o cara pirou e começou a gritar "Esse negócio de time de liga não me pega mais. Nunca mais jogo em time de liga. Vou voltar pra série prata do gauchão que só tem viagem de ônibus e é tudo pertinho..."
Estávamos esgotados, largados ali no chão do aeroporto. Mas naquele momento o Vítor nos trouxe uma alegria ímpar e a gargalhada foi geral. Valeu irmão !
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