
O principal patrocinador da equipe era a empresa Macer cujo presidente Augustín Poyatos era o manda-chuva da equipe. Na hierarquia da equipe e da empresa vinha o Pepe Miquel (vice-presidente) e depois o Manolo. Curioso é que este esquema é praticamente igual ao que acontece aqui no Carlos Barbosa.
A recepção do grupo foi ótima. Após o treino fui levado pelo gerente até a sede e recebi todo o material de treino e viagens. Era muita roupa. Eu ainda receberia mais a frente os agasalhos para o inverno. Outra diferença por lá é que tanto atletas como comissão técnica levam seu material para lavar em casa. Cada um é responsável por suas coisas. Exceto material de jogo que era levado pelo roupeiro Augustín, um senhor de idade muito simpático e que me ajudou muito por lá, para a lavanderia. No Brasil os atletas tem a cultura de esperar que o clube faça tudo por eles. Isso é uma herança negativa que herdamos do Futebol. No futuro haverá um post sobre este tema.
Havia muito trabalho pela frente. As informações que eu e o Padú (treinador brasileiro que vive há mais de 15 anos na Espanha) tínhamos era que o Playas era um time que chegava nos últimos anos na competições sempre como favorito mas que na hora H não vencia. O clube naquela temporada 1999-2000 tinha um dos maiores orçamentos (senão o maior) da División de Honor (1ª divisão) e tinha sido eliminado na semifinal da Liga nacional na temporada anterior pelo Industrias García (hoje Marfil Santa Coloma), uma equipe com orçamento muito inferior.
No Brasil temos o hábito de querer vencer sempre mesmo estando em equipe de porte inferior. No Playas estava impregnado o "medo de vencer". Pronunciar o nome "Boomerang Interviu" provocava calafrios em muitos da equipe, principalmente em membros da diretoria. O Interviu era considerado carrasco do Playas. Isso estava no ar e neste aspecto começou a aparecer o brilho do Padú como treinador. A história iria mudar...
Depois de ir até a sede do clube, o Padú me levou para almoçar quase as quatro da tarde. Estava faminto ! Finalmente fui para o apartamento. O Playas tem uma organização ótima quanto a moradia. Todos os atletas moravam em um condomínio bem confortável com piscina na mesma rua do ginásio. De casa até o local de trabalho não dá nem 2 minutos andando. Eu também morava lá. Só o treinador que normalmente mora em outro apartamento mas que ficava em frente ao condomínio. O Playas pagava aluguel e todas as contas do ap. (exceto telefone). Isso já vinha em contrato e dava uma segurança e alívio pois o salário entrava "limpo".
Depois de me deixar no apartamento o Padú me deixou descansando e avisou que voltaria a noite a fim de irmos jantar. No verão Castellón vira uma verdadeira cidade fantasma. Alguns estabelcimentos comerciais chegam a fechar o mês inteiro. Eu tive a péssima idéia de dormir um pouco pois o jet leg havia pegado firme. Eu durmo muito pouco em viagens. Não por medo e sim porque simplesmente não consigo. Pois é, o Padú não apareceu e eu apaguei. Acordei no meio da madrugada literalmente sem saber se estava no Brasil ou se a Espanha era só um sonho. Totalmente grogue olhei no relógio e vi que marcava duas da manhã. Pensei: Já era ! o cara veio aqui e eu apagado não ouvi o interfone. Tentei dormir e não consegui mais. Bateu a fome e o desespero pois dentro de casa não havia quase nada para comer. Arrisquei ir no ap. do Padú mas eu nem sabia o número. Quando olhei no interfone "1º direita, 2º izquierda..." Ferrou ! Após acordar uma moradora e arranhar um portunhol descobri o ap. do Padú que não estava em casa ! Que ótimo... eu com fome e sem moeda espanhola no bolso (peseta na época). Voltei pra casa e para minha sorte havia na geladeira um pouco se salsicha e pão. Isso foi o que sobrou do antigo morador (um goleiro que foi fazer teste no clube) e foi o que eu comi. Mais tarde eu descobrira o porque do sumiço Padú. infelizmente essa eu não posso contar...
No próximo post continuarei falando sobre minha jornada em terras espanholas.
Hasta Luego !
Nenhum comentário:
Postar um comentário