segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um clube fechado - uma experiência traumática

Aeroporto Salgado Filho - Porto Alegre (1998)

O ano de 1998 começou muito bem. O Tio Sam tinha uma estrutura de fazer inveja. Ginásio com quadra 40x20m, vestiário com hidromassagem aquecida, academia com equipamentos importados, piscina exclusiva para fisioterapia, ônibus próprio para translados curtos, restaurante e alojamento dentro do clube, etc. Além disso havia arrendado o campo do Gragoatá que posteriormente seria cedido ao Botafogo. Também costumávamos fazer treinos físicos na praia de São Francisco. Nosso motorista, o "Da Roça" tinha sempre histórias incríveis pra contar e era um sujeito mal encarado porém muito divertido. Naquele ano o Tio Sam queria alçar voos mais altos no cenário nacional e para isso investiu em atletas como Cacau, Joan e Benatti e o Ivan que estava em Portugal. Na Taça Brasil fomos vice-campeões, perdendo para o timaço da GM dirigida pelo Ferretti na final. Naquela época foi a primeira vez que ouvi falar do profº João Carlos Romano, hoje preparador físico da Seleção Brasileira e da Malwee Futsal. O João e o Marco Freitas da Ulbra (e o Diego, é claro) passaram a ser minhas referências no futsal. Hoje tenho grande amizade, respeito e adimiração por ambos.

Na Liga Nacional daquele ano terminamos em 5º lugar. Saímos na 2ª fase e não classificamos para semifinal por pouco.

O esporte nos proporciona várias coisas. A primeira vez que andei de avião foi através do Tio Sam. E obviamente como todo iniciante empolgado bati fotos (acima). O Verdini que até hoje é professor universitário não poderia viajar com o grupo que iria enfrentar a Ulbra em Canoas e me comunicou que eu iria. Eu nunca viajava com o time. Sempre ficava com a tarefa de dar treino para os atletas que não estavam relacionados para as viagens. Mas sempre fui respeitado e eles faziam meus treinos numa boa. Tá certo que eu como "aspira" também não descascava muito os caras a fim de ganhar alguma moral. Mais tarde descobri por mim mesmo que este não é bem o caminho.

O voo foi tranquilo e até engraçado pois alguns atletas morriam de medo de avião e faziam caretas incríveis durante a decolagem e o pouso o que de certa forma me descontraiu. O Jorge, nosso massagista (Botafoguense doente !) tomou todas durante o voo. De cerveja a Cinzano... Que sujeito a toa... Ficamos no antigo hotel da rede Alfred (hoje extinto) no centro de Porto Alegre. O jogo foi inesquecível. Fomos bem desfalcados para Canoas pois no jogo anterior contra a ASBAC em Brasília o tempo fechou e tivemos vários jogadores expulsos. Encaramos a Ulbra com vários garotos no banco: Jorginho (Ex PEC e Vassouras), Fabiano (Ex Garça, PEC), Geó (hoje Policial Militar), Felipe Neguinho (acho que está na Espanha). Vencemos o timaço da Ulbra por 7x5 com nosso "expressinho". Vale lembrar que a Ulbra estava completa e naquele ano seria a campeã da Liga vencendo o Carlos Barbosa na final. Foi uma festa ! Por telefone o Dalê (Dalessandro, filho adotivo do Sr. Antônio e D.Terezinha, patronos do clube) disse ao Luiz Carlos para liberar uma grana pro pessoal comemorar. A maioria, como eu, foi para no Dado Bier de Porto Alegre.

Foi no Tio Sam que em 1998 eu comprei meu primeiro carro. Um Chevette 1985 que era da família do Benatti desde 0km e passou dos pais para os filhos. O Benatti facilitou o pagamento e assim pude ter meu primeiro "chevelinho".

Em 1998 surgiu outra força no Rio de Janeiro e na Liga Nacional: o Iate/kaiser que trouxe atletas de ponta como Vander Carioca, Waguinho, Sandrinho, Serginho e Julio Cesar, chamados pelo fisioterapeuta Robério de "Power Rangers". Isso de certa forma incomadava e muito o Tio Sam que via sua hegemonia no Estado ser ameaçada.

Para piorar a situação numa manhã "tranquila" como outra qualquer eu cheguei no clube cedo pois a sessão de treino era comigo (treino físico na quadra). Quando solicitei o material para o roupeiro ele me disse: "O Tio Sam acabou !!! " Obviamente achei que fosse sacanagem da parte dele pois era muito brincalhão. Infelizmente não era... além do surgimento do Iate e de uma pressão interna (na família) para acabar com Futsal e investir em Futebol, o Dalessandro que era o filho mais próximo dos jogadores (e mais querido também) havia cometido suicídio. Este fato abalou a estrutura da família gestora do clube e tenho certeza que foi fundamental para o término do clube apesar de nunca terem falado nada a respeito.

De repente me vi ali sentado na escada de acesso ao ginásio, estarrecido, dando a notícia aos atletas que chegavam para treinar. Houve uma reunião rápida e muito comovente no vestiário onde o Sr.Orlando Canito comunicou a todos o fim da era Tio Sam. Até o treinador Gérson Tristão foi pego de surpresa. A tristeza e o pavor tomou conta de todos. O que fazer de agora em diante ? Estávamos no meio do ano ainda. Daquele dia triste no vestiário o que trago de lembrança boa foram as palavras do meu amigo Mauro Brasília que com lágrimas nos olhos ainda buscou forças para consolar a todos e deu exemplos a respeito do que é ser profissional no dia a dia. Grande capitão !

Felizmente no segundo semestre de 1998 a maioria dos atletas do Tio Sam se empregou no Vasco da Gama que começava a investir mais forte. O Gérson Tristão nunca mais quis saber de futsal tamanha a decepção. O Verdini seguiu com suas inúmeras aulas no munícipio e Universidade. Eu continuei com minhas aulas em academias e numa clube de empresários no Recreio Futebol Clube, que tinha como sócios os ex-zagueiros do Flamengo Rogério e Gelson Baresi. Naquele segundo semestre se 1998 em relação ao futsal eu estava na "Dança dos Desempregados" como diria Gabriel, o Pensador. Eu só voltaria a trabalhar com futsal no início de 1999, no Club Comary de Teresópolis, tema do meu próximo post.

Ah, pra fazer justiça em relação ao post anterior, gostaria de agradecer ao Hugo, treinador de goleiros, que foi um grande parceiro da época de Tio Sam. E também queria recordar o Nenéu, roupeiro que mais matou avós na história do futsal ! E que também "fulminava" com cuspes quem sentasse a sua frente por conta de um "tic nervoso" devido a um trauma de infância. O Wallace que adorava sentar na frente dele na hora do almoço ! rsrsrs !


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