segunda-feira, 1 de março de 2010

Profissionalismo x Salários atrasados

No Vasco da Gama, as meninas do Basquete davam lições constantes de profissionalismo, mesmo convivendo com salários atrasados, com a comida ruim oferecida pelo clube e com o descaso da diretoria.
Muitas meninas moravam no alojamento, dentro de São Januário. Os apartamentos eram bons. Mas em épocas de vacas magras, as refeições oferecidas eram péssimas. Eu almoçava com elas algumas vezes. Algumas atletas faziam faculdade ou cursavam o ensino médio.
A Maria Helena e a Heleninha sempre foram solidárias com as difilcudades enfrentadas pelas meninas e tentavam mostrar a elas que só vencendo e mostrando um bom trabalho poderiam sair daquela situação. Então elas arregaçavam as mangas e encaravam o batente.
Tinha dias que era difícil vê-las sendo cobradas, sabendo que não estavam recebendo salários, se alimentando mal e com N problemas para resolver. Muitas estavam longe de suas casas e de suas famílias, morando em outro Estado, o que dificultava pois não tinham pra onde correr.
Estas situações as deixavam muito unidas.
Mesmo com tantas adversidades as atletas sempre cumpriram suas obrigações com tremendo profissionalismo. Neste aspecto o Basquete está na frente do Futsal. Infelizmente...
Não estou aqui defendendo que está certo receber com atraso e ainda ter que se empenhar ao máximo. Não é isso. No Basquete existe toda uma cultura que já vem desde a base. Vou citar alguns exemplos práticos. Após o treino, sem ninguém mandar, as atletas iam arremessar (lances livres, 2 e 3 pontos). As vezes ficavam até uma hora depois do treino a fim de melhorar sua performance. Outra situação era em relação ao scout técnico. Se uma atleta fosse mal nos lances livres, por exemplo, no treino seguinte lá estaria a mesma treinando mais lances livres. Durante o jogo era comum elas me cobrarem sobre suas performances. Isso dava um feedback tremendo durante a partida. A Maria Helena era fera nisso aí. Ela traçava metas para a equipe e para cada atleta de acordo com o adversário. Se fosse um rival mais fraco colocava para a equipe o máximo de cestas que poderíamos sofrer, quantos rebotes ofensivos e defensivos tínhamos que efetuar e assim por diante. Também exigia, de acordo com a característica de cada atleta, uma determinada meta. Por exemplo: uma armadora nossa era especialista em arremessos de 3 pontos. Portanto em um determinado jogo teria que efetuar X arremessos e converter Y. As Marias gostavam muito de trabalhar com percentual de acerto.
No Futsal a maioria das equipes faz scout. Infelizmente muitos treinadores olham os números e não fazem nada. Alguns sequer olham o scout. São poucos os treinadores que dão a devida importância. Precisamos aprender e muito com outras modalidades como o Vôlei e o Basquete.
Felizmente as Marias estava certíssimas. Quando as equipes femininas foram extintas, a maioria conseguiu se empregar em bons clubes. As que não seguiram carreira, pelo menos cursaram uma faculdade e seguiram com suas vidas, tendo uma profissão.
Eu, particularmente, desejo que todas estejam muito felizes.

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