domingo, 11 de abril de 2010

Despedida


Após a conquista dos campeonatos metropolitano e estadual em 2001, o Vasco teria pela frente o Torneio Rio-SP-Minas para encerrar o ano. Só que a esta altura, estávamos há três meses sem receber salários e eu estava bastante desanimado e chateado. Primeiro pelo fato do Vasco ter participado de uma excursão ao Japão. Na ocasião estava determinado que eu iria e depois acabei rodando para o vice-presidente da federação carioca. Tudo pra fazer média. Além disso, pra piorar, o Vasco deu um vale (parte do salário) para o pessoal que foi viajar e os que ficaram não viram nem um centavo. Sacanagem, né não ?
Com a participação no Torneio Rio-SP-Minas haveriam viagens e isso significaria ter que faltar nos locais de trabalho aonde eu recebia em dia. Eu perderia dinheiro pelas faltas e corria o risco de perder os empregos também. Foi aí que decidi pedir demissão no Vasco. Não dava mais para aguentar aquela situação. Conversei com a comissão técnica e eles entenderam minha situação. Neste período eu tive uma idéia e pouca gente sabe que tive participação nisso. Eu falei pro Diego (supervisor) tentar convencer o Lucena a fim de trazer o Sávio (atual treinador do Macaé) de volta como preparador físico. O Lucena ouvia muito o Diego mas estava magoado com o Sávio por conta da época que foi demitido. Não estou aqui para dizer quem estava com a razão na época pois não fazia parte do grupo. O bom foi que o Sávio acabou voltando no meu lugar como preparador físico e teve a possibilidade de se entender com o Lucena novamente. Fiquei contente por isso pois o Sávio é um grande amigo e excelente profissional.

Na abertura do torneio, o Vasco jogou no ginásio do Olaria, praticamente no quintal da minha casa e eu prometi ao grupo que iria assistir o jogo e dar um abraço em todo mundo. Bem pertinho do ginásio há um supermercado Sendas e eu estava fazendo compras momentos antes do jogo quando recebi uma ligação do Andrey: "Pô professor, nem vai vir dar uma moral pra gente né?" Respondi que iria sim e do outro lado ouvi o seguinte: "vem logo que saiu dois meses de salário e o Marco Bruno está com seu envelope aqui no ginásio." Honestamente eu não tinha mais esperança de ver essa grana e emendei: "Vai t... não precisa fazer chantagem. Eu vou ver vocês..." Eu achava que o Andrey estava de onda com a minha cara pois é um cara muito brincalhão. Foi só quando o Diego falou comigo que era sério que eu passei a acreditar. O resultado foi que eu larguei o carrinho de compras do jeito que estava e cheguei no ginásio em tempo recorde. Sim, era verdade !!! Recebi dois meses de salário. O terceiro mês ficou para o Eurico Miranda ajudar nas contas dele. O coitado na época estava com problemas para pagar os condomínios em Angra dos Reis (RJ) e Boca Ratón (Miami).

Neste período curto lá no time da colina que eu e o Andrey começamos a nos tornar grandes amigos. Mais tarde a gente voltaria a trabalhar juntos aqui no Carlos Barbosa. Mas isso é assunto para outro dia.

No esporte, tão importante quanto o dinheiro e os títulos, são as amizades que você faz. Eu sou rubro-negro de coração, time que aprendi a amar desde pequeno, totalmente influenciado pelo meu pai (o seu Jota). Mas quando se trabalha com esporte não fazemos este tipo de escolha. No Vasco fiz grandes amizades. A maioria de seus funcionários eram pessoas simples e humildes e com um coração enorme. Tenho saudade não do clube em si mas do convívio com profissionais de outras modalidades e o que proporcionava uma troca enriquecedora.
Até mais !

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