sábado, 27 de fevereiro de 2010

Um curso para toda a vida

Jogos Abertos Brasileiros (JAB's 2003) - Poços de Caldas-MG
Da esq. para dir.: Aline (fisio), Maria Helena, Eu, Ferreira (supervisor) e Heleninha
Comecei no Basquete feminino (infanto e juvenil) totalmente "crú" mas disposto a aprender. Fui muito bem recebido pela Heleninha, treinadora do Juvenil,e pelo Pulga, que eu já conhecia dos tempos de faculdade e que treinava o infanto-juvenil, lá no Vasco. Estas equipes treinavam somente no turno da tarde e nos demais turnos eu trabalhava em academias (várias!) fazendo quase de tudo: professor de musculação, personal trainer e avaliação funcional. Como o tempo era curto, eu tinha pouco tempo para trabalhar com as meninas que faziam musculação antes dos treinos. E, algumas poucas vezes, eu dava treinos essencialmente físicos.
Como eu não tinha experiência na modalidade, passei a acompanhar a equipe adulta, comandada pela Maria Helena e que tinha o João Nunes como preparador físico. Ali em São Januário eu fiz um dos melhores cursos da minha vida pois eu recebia aulas teóricas incríveis por parte das Marias (as duas se chamam Maria), que eram chamadas carinhosamente de Dona e Doninha pelas atletas, e do Joaozinho também.
Este trio veio para o Vasco através de um projeto olímpico visando os Jogos de 2000. Naquela época chovia dinheiro no clube e atletas de várias modalidades foram contratados. O Hélio Rubens era o coordenador deste projeto e também era o treinador do Basquete masculino adulto. No Futsal craques como Manoel Tobias, Lavoisier, Schumacher e Índio fizeram parte daquele timaço campeão da Liga Nacional de 2000.
Voltando ao Basquete feminino, as Marias tinham um entrosamento perfeito. As duas sempre iam juntas para uma mesma equipe. A Heleninha treinava as equipes juvenis, fazendo todo um trabalho muito didático de correção, postura, desenvolvimento da técnica, etc. As meninas que passavam na mão da Heleninha chegavam prontinhas (ou quase) para a Maria Helena. Isso facilitava muito pois os treinos da Maria Helena eram mais fortes e corridos. Assim não dava tempo pra ficar efetuando correções de erros básicos. A Maria Helena era sempre onipresente nos treinos. Meus Deus ! Aquela mulher enxergava os quatro cantos da quadra e não deixava nada passar batido. As duas juntas eram um verdadeiro dínamo.
Infelizmente em 2001 o Vasco havia perdido seu patrocínio e pra piorar o Eurico Miranda brigou feio com a rede Globo, colocando o logotipo do SBT nas camisas, na final do brasileiro de futebol. Acho que todos lembram deste episódio. No clube o dinheiro sumiu e todos os funcionários conviviam com salários atrasados.
Com o João Nunes eu aprendia bastante sobre metodologias modernas de treinamento. O cara é um estudioso do esporte (hoje ministra aulas em cursos de pós graduação pelo Brasil). Foi uma pena quando o João, por falta de pagamento, resolveu largar o Vasco. Eu também larguei pouco tempo depois pelo mesmo motivo. Eu queria que o clube pelo menos assinasse minha carteira de trabalho, o que não aconteceu. Naquela época quem era registrado recebia com "pouco atraso".
Passado um tempo, fui convidado pelo Diego (supervisor) e pelo Ricardo Lucena (treinador) para ser o preparador físico de Futsal do Vasco. Isso foi na metade de 2001. Mas esta passagem pelo Futsal do clube vou contar em outro post.
A Maria Helena quando soube ficou doida com a diretoria do Basquete pois ela me queria no adulto. Mas eles não sinalizavam nem com grana e nem com a questão da carteira.
Eu acabei indo trabalhar com ela na equipe adulta já em 2003 e com carteira assinada, depois de muito custo. Mesmo assim não tinha um mês que eu recebesse em dia. O que garantia minhas contas eram as aulas de personal trainer, como avaliador e professor de musculação.
No final de 2003 as Marias não aguentaram a pressão de ficar tanto tempo sem receber e foram embora pra São Paulo. No lugar delas entraram o Miguel Palmier (adulto) e o Felipe (juvenil).
Nesta altura do campeonato a coisa estava tão feia que um dia, para poder ter número suficiente de atletas no treino, paguei do meu bolso um lanche para uma atleta que tinha perdido o horário de almoço no clube. Fiquei no Vasco até 2004 e saí numa "barca" de demissões de mais de 100 funcionários. Foi um alívio pois eu já estava contratado pela Seleção Japonesa de Futsal. Isso é assunto para outro dia.
Com estas passagens pelo Basquete aprendi muito sobre profissionalismo. Eventualmente citarei exemplos desta modalidade. Tenho muito orgulho e muita honra em poder ter trabalhado ao lado destas feras: Maria Helena, Heleninha e João Nunes. E com algumas atletas que despontam até hoje na seleção brasileira e em grandes times como Ourinhos, Americana, equipes da WNBA e da Europa, como: Érica, Caé (Micaela), Bethânia, Bruna e tantas outras.
Ao todo, trabalhei no clube em quatro oportunidades diferentes. Em nenhuma delas consegui receber tudo o que tinha direito. O que me gerou um certo trauma para trabalhar em "times de camisa" novamente.

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