sábado, 27 de fevereiro de 2010

Um curso para toda a vida

Jogos Abertos Brasileiros (JAB's 2003) - Poços de Caldas-MG
Da esq. para dir.: Aline (fisio), Maria Helena, Eu, Ferreira (supervisor) e Heleninha
Comecei no Basquete feminino (infanto e juvenil) totalmente "crú" mas disposto a aprender. Fui muito bem recebido pela Heleninha, treinadora do Juvenil,e pelo Pulga, que eu já conhecia dos tempos de faculdade e que treinava o infanto-juvenil, lá no Vasco. Estas equipes treinavam somente no turno da tarde e nos demais turnos eu trabalhava em academias (várias!) fazendo quase de tudo: professor de musculação, personal trainer e avaliação funcional. Como o tempo era curto, eu tinha pouco tempo para trabalhar com as meninas que faziam musculação antes dos treinos. E, algumas poucas vezes, eu dava treinos essencialmente físicos.
Como eu não tinha experiência na modalidade, passei a acompanhar a equipe adulta, comandada pela Maria Helena e que tinha o João Nunes como preparador físico. Ali em São Januário eu fiz um dos melhores cursos da minha vida pois eu recebia aulas teóricas incríveis por parte das Marias (as duas se chamam Maria), que eram chamadas carinhosamente de Dona e Doninha pelas atletas, e do Joaozinho também.
Este trio veio para o Vasco através de um projeto olímpico visando os Jogos de 2000. Naquela época chovia dinheiro no clube e atletas de várias modalidades foram contratados. O Hélio Rubens era o coordenador deste projeto e também era o treinador do Basquete masculino adulto. No Futsal craques como Manoel Tobias, Lavoisier, Schumacher e Índio fizeram parte daquele timaço campeão da Liga Nacional de 2000.
Voltando ao Basquete feminino, as Marias tinham um entrosamento perfeito. As duas sempre iam juntas para uma mesma equipe. A Heleninha treinava as equipes juvenis, fazendo todo um trabalho muito didático de correção, postura, desenvolvimento da técnica, etc. As meninas que passavam na mão da Heleninha chegavam prontinhas (ou quase) para a Maria Helena. Isso facilitava muito pois os treinos da Maria Helena eram mais fortes e corridos. Assim não dava tempo pra ficar efetuando correções de erros básicos. A Maria Helena era sempre onipresente nos treinos. Meus Deus ! Aquela mulher enxergava os quatro cantos da quadra e não deixava nada passar batido. As duas juntas eram um verdadeiro dínamo.
Infelizmente em 2001 o Vasco havia perdido seu patrocínio e pra piorar o Eurico Miranda brigou feio com a rede Globo, colocando o logotipo do SBT nas camisas, na final do brasileiro de futebol. Acho que todos lembram deste episódio. No clube o dinheiro sumiu e todos os funcionários conviviam com salários atrasados.
Com o João Nunes eu aprendia bastante sobre metodologias modernas de treinamento. O cara é um estudioso do esporte (hoje ministra aulas em cursos de pós graduação pelo Brasil). Foi uma pena quando o João, por falta de pagamento, resolveu largar o Vasco. Eu também larguei pouco tempo depois pelo mesmo motivo. Eu queria que o clube pelo menos assinasse minha carteira de trabalho, o que não aconteceu. Naquela época quem era registrado recebia com "pouco atraso".
Passado um tempo, fui convidado pelo Diego (supervisor) e pelo Ricardo Lucena (treinador) para ser o preparador físico de Futsal do Vasco. Isso foi na metade de 2001. Mas esta passagem pelo Futsal do clube vou contar em outro post.
A Maria Helena quando soube ficou doida com a diretoria do Basquete pois ela me queria no adulto. Mas eles não sinalizavam nem com grana e nem com a questão da carteira.
Eu acabei indo trabalhar com ela na equipe adulta já em 2003 e com carteira assinada, depois de muito custo. Mesmo assim não tinha um mês que eu recebesse em dia. O que garantia minhas contas eram as aulas de personal trainer, como avaliador e professor de musculação.
No final de 2003 as Marias não aguentaram a pressão de ficar tanto tempo sem receber e foram embora pra São Paulo. No lugar delas entraram o Miguel Palmier (adulto) e o Felipe (juvenil).
Nesta altura do campeonato a coisa estava tão feia que um dia, para poder ter número suficiente de atletas no treino, paguei do meu bolso um lanche para uma atleta que tinha perdido o horário de almoço no clube. Fiquei no Vasco até 2004 e saí numa "barca" de demissões de mais de 100 funcionários. Foi um alívio pois eu já estava contratado pela Seleção Japonesa de Futsal. Isso é assunto para outro dia.
Com estas passagens pelo Basquete aprendi muito sobre profissionalismo. Eventualmente citarei exemplos desta modalidade. Tenho muito orgulho e muita honra em poder ter trabalhado ao lado destas feras: Maria Helena, Heleninha e João Nunes. E com algumas atletas que despontam até hoje na seleção brasileira e em grandes times como Ourinhos, Americana, equipes da WNBA e da Europa, como: Érica, Caé (Micaela), Bethânia, Bruna e tantas outras.
Ao todo, trabalhei no clube em quatro oportunidades diferentes. Em nenhuma delas consegui receber tudo o que tinha direito. O que me gerou um certo trauma para trabalhar em "times de camisa" novamente.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sentindo na pele a teoria da bola

Retornei da Espanha em Junho de 2000. Na época o clube me ofereceu o cargo de treinador de goleiros (com redução de salário) já que a nova comissão técnica do Playas já estava contratada. Acho que foi uma oferta "por educação" pois sabiam que eu não aceitaria. Meu negócio é preparação física. Além disso eu tinha a idéia fixa (e totalmente equivocada) de que, por ter sido campeão na Espanha, teria emprego em algum clube no Brasil consequentemente. ERRADO !

O tempo e a experiência nos ensinam muitas coisas. Mas aos 26 anos eu não tinha noção disso ainda. E quebrei a cara. Entrou em cena a teoria da roda gigante. Ou, fazendo um paralelo com o Futsal, a teoria do mundo da bola que já citei em outra ocasião, onde ora se está por cima, ora por baixo.
No meu caso posso garantir que não foi presunção ou marra. Eu simplesmente achava que tudo iria dar certo em função daquele título que poderia impulsionar minha carreira. Só que Espanha e Brasil são dois mundos diferentes. Para falar a verdade muita gente do meio nem sabia que eu estava lá e que havia ajudado o Playas com seu primeiro título.

O segundo semestre de 2000 foi um período muito duro. Eu tinha apenas um emprego em uma academia no Rio e com carga horária muito baixa. A grana que eu guardei na Espanha ajudou por um tempo mas não muito. As oportunidades não apareciam por mais que fizesse contatos com amigos pedindo ajuda.
Engraçado como normalmente um problema desencadeia outros. Naquela fase negra tudo ia mal. No final do ano surgiu uma luz no final do túnel. Mas era para um novo recomeço. E eu fui, guerreiro novamente, encarar mais novo desafio.
Era a segunda vez que voltava ao Vasco da Gama. Agora como preparador físico do Basquete feminino (infanto e juvenil). O salário era baixíssimo mas fui convencido por meu amigo Diego a apostar no trabalho. As treinadoras eram nada mais, nada menos que a Maria Helena (adulto) e Heleninha (base). Aquelas que levaram o Brasil a conquista do Pan em Havana e que receberam as medalhas das mãos do próprio Fidel Castro. Foi nesse período que conheci o João Nunes, preparador do adulto feminino e da seleção feminina também. Um grande profissional e grande amigo.

Novo esporte, novos desafios. No próximo post vou contar um pouco da minha passagem pelo Basquete, do aprendizado que tive com estas duas mulheres magníficas e sobre a experiência de trabalhar com atletas do sexo feminino.

Sobre a segunda metade de 2000 eu poderia dizer que foi um semestre para se esquecer. Negativo! Hoje que estou numa bem melhor, sempre procuro recordar que já estive na parte de baixo da roda gigante e que pra lá não quero voltar. Isso me motiva a não relaxar no trabalho, não cair no comodismo. Chegar ao alto nível eu já cheguei e saí algumas vezes. Nos últimos anos estou conseguindo o mais difícil que é manter-se no topo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tá pegando fogo !

Em Castellón eu morava só num apartamento de dois quartos. Frequentemente eu recebia visitas do Gustavo Marques (ex-Teresópolis) e do Rodolfo (ex-Macaé e Tio Sam) jogadores do Benicarló que naquela época disputava a divisão de prata.
Benicarló é uma cidade com poucos atrativos e por isso os dois viviam em Castellón a fim de complementar seus treinos e por ser uma cidade com maiores opções de lazer.
Numa determinada ocasião os pais do Gustavo estavam na Espanha e foram todos lá pra casa passar o final de semana. A mãe dele, cozinheira de mão cheia, preparou um estrogonofe pra gente jantar. Estávamos ansiosos pois na Espanha não se come este prato. Durante o jantar o pai do Gustavo sentiu um cheiro de queimado e foi até a cozinha conferir. Não havia nada de errado por lá. Encucado com aquele cheiro (nós não demos muita bola) foi até a varanda e ao olhar para cima viu que saia fumaça de um apartamento do 6º andar (eu morava no 5º) e saiu gritando e pulando "tá pegando fogo !". Imediatamente largamos os pratos com a comida dentro e fomos ver o que estava acontecendo. Foi tudo muito rápido. Eu corri até o quarto e peguei meu passaporte e alguns dólares que tinha guardado no ármario. O pai do Gustavo molhou uma toalha e deu para sua esposa colocar na frente do rosto pois o corredor já estava com muita fumaça. Na saída lembro do Rodolfo ter voltado rapidamente para dentro do ap. "c... meu ouro não !!!" Estava se referindo as pulseiras e cordões de ouro que voltou para pegar. Foi engraçado esse lance...
Descemos pelas escadas com muita fumaça. Depois que tudo passou meu cuspe tinha cor preta e quando assoava o nariz, a mesma coisa. E assim foi durante três dias.
Ao chegarmos ao térreo, já do lado de fora do bloco, alguém avisou que uma mulher deficiente física, estava no 2º andar com difilcudades para sair. O Rodolfo não pensou duas vezes e voltou rapidamente para ajudar. Aí aconteceu o lance mais engraçado da noite. O pai do Gustavo gritou para ele voltar e disse que contaria tudo para o pai dele quando voltasse ao Brasil. Pior é depois disso o "tio" lembrou que tinha recolhido vários pertences mas havia esquecido todo o dinheiro no bolso de uma calça que ficara dentro do apartamento.
Os bombeiros chegaram e agiram rápido mas não a tempo de salvar o apartamento que ficou destruído por conta de uma vela que ficou acesa perto de uma cortina. Felizmente ninguém morreu ou se feriu gravemente.
Quando autorizados, voltamos para o apartamento e teve gente que ainda encarou o estrogonofe frio e com cheiro de queimado...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Confraternização

Tenho muitas recordações (e muita saudade também) dos meus tempos de Espanha. Foi realmente um período muito bom na minha vida.
Uma coisa bacana que acontecia religiosamente todo mês era o almoço promovido pela diretoria do Playas no restaurante El Pairal, um dos melhores de Castellón, e que contava com a participação de todos os atletas, comissão técnica, departamento médico e diretoria. O presidente Augustín Poyatos e o vice Pepe Miquel não perdiam um encontro, além de outros diretores e "aspones". Estas reuniões promoviam uma integração muito forte entre o pessoal que trabalhava dentro de quadra e o staff que nos dava o suporte fora dela.
A comida era maravilhosa. Mas o mais importante realmente era a confraternização. Ali, não nos sentíamos distantes dos "manda-chuvas". Os gestores por sua vez tinham a oportunidade de saber através do treinador e do restante da comissão técnica como iam as coisas, se faltava algo, o que podia melhorar, etc. Assim também se faz um time campeão.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Titular ? Eu ?!!

Durante um período da liga regular na Espanha o Playas de Castellón liderava com folga. Numa determinada rodada a gente enfrentou em casa uma equipe muito mais fraca. Salvo se ocorresse alguma tragédia, nossa vitória era certa e com bastante gols de vantagem. Então o Padú resolveu dar chance a alguns atletas que vinham jogando pouco. Só que fomos para a preleção e ele não divulgou os cinco iniciais. Durante o meu aquecimento ele chamou um atleta de canto e revelou que o colocaria na equipe titular. Era um garoto bem jovem, 1º ano de adulto. Nestas horas que a gente vê quem é quem.
Confesso que nunca vi nada parecido. O menino se transformou. Sem exageros, até a cor dos seus lábios mudaram. Ele não ficou com medo. Ele ficou apavorado ! O resultado foi que num exercício simples de aquecimento onde em duplas os atletas trocavam passes rasteiros de uma ala a outra, o garoto pisou na bola e torceu o tornozelo sozinho. E não foi uma entorse qualquer. O tornozelo inchou bastante e ele não só ficou fora daquela partida como ficou de molho no departamento médico por um bom tempo.
No esporte de alto nível existe uma grande diferença entre o boleiro que é aquele cara que quer viver no mundo da bola, ser badalado pelas meninas, usar roupas de marca, etc. e o atleta que se dedica não só nos treinamentos como fora também. Este último esta preparado para os desafios. Existe ainda o "intermediário" que é o que treina, se dedica e até joga muito bem alguns jogos, mas em decisões desaparece. Este rapaz foi procurar emprego no ano seguinte. O alto nível não era pra ele.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Playas 3 - Campeón de Liga !

Enfim Playas campeão da Liga. O 1º título da sua história.



Ainda na quadra a torcida começou a depenar todo mundo !


Comemorando com o fisioterapeuta Ramón


Presidente Augustín Poyatos feliz da vida.


Trem da alegria



Capitão Javier Lorente puxa o aplauso para a torcida


Volta olímpica no Ciutat de Castelló


Nem o presidente escapou do banho


Brasucas campeões! Padú, Edésio, Eu, Paulinho e Cupim



agradecendo na Basílica de Lledó


As fotos por si só já contam uma história. Mesmo assim farei um relato da fase de mata-mata onde o título foi disputado por oito equipes: Playas de Castellón x Café Dry (atual Carnicer) / El Pozo x Boomerang Interviu / Caja Segovia x Ourense / CLM Talavera x O'Parrulo.

Vencemos a primeira partida das quartas de final, em casa, por 2x0 e fora por 10x2, não havendo necessidade da 3ª partida. E assim ficaram as semifinais: Playas x Interviu / Caja Segovia x CLM Talavera. O Interviu entraria novamente no caminho do Playas e desculpem a expressão, mas teve muito diretor que ficou "cagado". O 1º jogo foi em casa e no intervalo estava 0x0 em um jogo tenso e com poucas oportunidades pra cada lado. Na segunda parte foi um estrago e vencemos por 6x0. A torcida obviamente ficou eufórica. Para muitos aquela goleada valia mais que um título. Naquele momento nossa missão era não deixar a euforia tomar conta do grupo. Haveria o 2º jogo em Madri e mesmo se perdêssemos jogaríamos uma 3ª partida em casa. Mas não demos chance ao azar e vencemos fora por 3x1. Na quadra em Torrejón de Ardoz a felicidade era tremenda. Parecia conquista de título. No vestiário após baixar a onda de felicidade, algumas lideranças da equipe falaram sobre a importância de se manter o foco nas finais pois o melhor estaria por vir ainda. O nosso adversário na grande final foi o CLM Talavera, equipe treinada pelo Tino Perez e que tinha o preparador físico da seleção espanhola também. Por ironia, esta viria a ser a comissão técnica do Playas na temporada seguinte (2000-2001). A equipe deles tinha excelentes jogadores como os gêmeos Joan e Andreu, Kike, o goleiro Toni e o Marcos Pipoca (atual treinador da seleção brasileira).

O Joan terminou artilheiro da competição com 68 gols, seguido pelo Paulo Roberto do El Pozo (66) e pelo Edésio do Playas(66). Posso afirmar, sem tirar méritos de ninguém, que o Edésio só não foi artilheiro daquela temporada devido a algumas lesões que o deixaram fora de algumas partidas.

A final foi em melhor de cinco jogos. Fizemos o dever de casa e ganhamos a 1ª por 4x1. Então seguimos para Talavera para jogar dois jogos em dois dias seguidos (sábado e domingo). Se houvesse necessidade haveria o 4º e 0 5º jogo em Castellón na semana seguinte. Sabíamos que seria muito difícil vencer as duas na casa deles. A torcida fanática os empurrava sempre, além da qualidade da equipe. Se ganhassemos pelo menos uma partida era lucro certo pois ainda teríamos pelo menos dois jogos em casa para ganhar apenas um. O que não poderia acontecer era perder as duas fora o que nos obrigaria a vencer duas em casa, sob a pressão de nossa torcida, com a obrigação de vencer e o peso dos fantasmas do passado. Então decidimos apostar tudo no 1º jogo fora de casa. Vencemos por 5x3 e o jogo terminou tumultuado, com as duas equipes com nervos a flor da pele. O Tino (treinador deles) ficou irritado com um pedido de tempo feito pelo Padú quando faltava menos de um minuto para acabar. Na Espanha eles levam isso muito a sério como ofensa e desrespeito. Mas afirmo que não foi maldade do Padú. Todos sabemos que no Futsal dois gols de diferença não é nada. Isso muda muito rápido. E naquele momento a equipe deles nos pressionava muito. Teve discussão e até empurra-empurra e ponta pé.

A terceira partida era na base do "ou vai ou racha" para o Talavera e eles viriam com tudo pra cima da gente. Mas quem abriu o marcador fomos nós com um gol do Paulinho logo no 1º minuto. Ainda no 1º tempo eles viraram com dois gols do Joan. Faltavam menos de 7 minutos para o final do jogo e a bola não entrava de jeito nenhum. Do banco de reservas o Edésio virou pra mim e disse: "fica tranquilo parceiro pois vamos embora para o Brasil ainda esta semana." Se houvesse o 4º e o 5º jogo a gente só voltaria pra casa mais tarde. E naquela altura do campeonato estávamos morrendo de saudades de casa. O "duende" (a torcida o chamava assim) entrou e guardou dois, sendo o último numa arrancada espetacular desde a nossa quadra de defesa. Promessa cumprida e o título garantido. PLAYAS CAMPEÃO !

Agradeço ao Diego e ao Padú pela oportunidade de poder ter sido campeão na Espanha.
O único fato lamentável desta conquista foi a não renovação de contrato da comissão técnica por parte da diretoria, o que é um direito deles. Mas principalmente o Padú merecia ter renovado. Mais tarde soubemos que a comissão técnica do Talavera já estava acertada há tempos, antes do início dos play offs. Foi uma grande injustiça. Até porque nos anos seguintes o Playas foi a grande força da Espanha e da Europa, tendo conquistado o bi da Liga Nacional e o campeonato Europeu de clubes por três vezes. O campeonato Europeu era um sonho pra mim. Fui privado de disputar esta competição. Mais tarde eu teria outra oportunidade de disputar esta competiçao por um clube da Bélgica. Teria, mas não tive... bateu na trave novamente. Esta história eu conto outro dia.
Um abraço e até breve.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Playas - parte 2

Com os atletas Óscar Redondo e Javi Rodriguez




Eu, Cupim e Padú - Feira de Cerâmica em Valencia (1999)




Durante a Liga Nacional, temporada 1999-2000, o Playas deu um verdadeiro banho. Aos poucos a equipe foi amadurecendo e adquirindo mentalidade vencedora. Não posso afirmar pois não tenho os dados de outras temporadas mas aquela campanha que fizemos na Liga foi uma das melhores de todos os tempos senão a melhor. Perdemos apenas duas partidas e fora de casa. Para o Caja Segovia, do treinador Venancio atualmente na seleção espanhola e que tinha craques como Luis Amado, Daniel, Orol e Riquer. Esse time ainda era o multi-campeão do momento (Liga, Copa, Europeu e Mundial). E também para o Interviu que tinha o Vinícius e o Choco como estrangeiros e como falei antes era o terror castellonense. Além disso fomos campeões da liga regular, um título simbólico para quem soma mais pontos na primeira fase, com melhor ataque e defesa menos vazada.



Nosso time tinha um elenco muito qualificado. Confesso que não conhecia quase ninguém, nem mesmo os brasileiros que já atuavam há anos na Espanha. Os destaque eram Javi Rodriguez (atual capitão da seleção espanhola), Javi Sanchez, Lorente e os brasileiros Cupim, Edésio e Paulinho. Estes brasileiros foram fundamentais no meu processo de adaptação ao clube e à Espanha. Os caras me ajudaram de verdade e sou muito agradecido aos três e suas respectivas esposas por tudo que fizeram por mim. Sempre que possível mantemos contato. O Paulinho já parou de jogar e até hoje vive na Espanha. O Edésio também parou e está no Brasil. O Cupim ainda atua em alto nível defendendo o Petrópolis. Nossa comissão era formada pelo Padú, Eu (Prep. físico e 2º treinador), Ramón (fisioterapeuta), Dr. Medina (médico) e o Augustín "Viejo" como roupeiro. Todos muito qualificados e competentes.



Durante a Liga nosso goleiro titular me dava medo e tirava o sono do treinador. Era um bom goleiro mas que levava uns frangos terríveis. O reserva era bom mas custava a emagrecer e achava que tomando sete cocas no jantar iria entrar em forma. Neste dia contei as sete garrafas na mesa e brinquei com o grupo. Para minha surpresa todas eram do goleiro. Ainda bem que eram garrafas do tipo caçulinha (200ml)... Brincadeiras a parte, engrossamos com ele. Na fase de mata-mata (Play Off) o goleiro titular resolver fechar o gol. E nos ajudou e muito a conquistar o título.



O Playas era apontado como franco favorito. Naquele ano as forças na Espanha em relação a orçamento e elenco eram Playas, El Pozo, Interviu, Caja Segovia e Talavera. Fomos para a Copa de España como favoritos também. No sorteio começamos mal e pegamos o El Pozo logo de cara. A Copa naquela época era disputada pelos oito primeiros colocados ao final do 1º turno da fase regular da Liga. A Liga tinha 16 equipes que jogavam entre si em turno e returno (fase regular). Ao final, os oito primeiros colocados disputavam o play off em sistema de mata-mata. Com jogos em melhor de 3 nas quartas de final e semifinal e melhor de 5 partidas na grande final. Voltando à Copa, levamos 4x1 do El Pozo na abertura do torneio (fora o baile) e fomos eliminados. A partir daquela competição começaram a questionar o trabalho do Padú internamente (alguns somente, diga-se de passagem) e a cama dele começava a ficar pronta sem que soubesse. Aliás, nenhum de nós da comissão suspeitava disso.



O sonho do primeiro título da história do Playas tinha ido por água abaixo novamente. Todos os fantasmas voltaram. Retornamos com força total na Liga e terminamos em 1º a fase regular. Isso garantiu o emprego do Padú. Tínhamos o mata-mata pela frente e a dúvida se alguns dariam a resposta necessária. A história mudou e durante o play off demos um show e isso será o assunto do próximo post.









Playas - de time perdedor a uma campanha histórica

Minha chegada à Espanha foi tranquila. Não me refiro a parte aérea e sim a parte terrestre pois o gerente da equipe do Playas de Castellón, Manolo Pesudo, foi me buscar no aeroporto de Valencia com seu Golf branco que nunca mais esquecerei. No trajeto Valencia-Castellón entre nosso bate-papo sobre atletas que trabalharam comigo e que jogaram no Playas também (Cacau e Neco) notei que o velocímetro beirava os 160km/h. Além disso o Manolo gostava de ultrapassagens "com emoção". Na Europa as autopistas são um convite para altas velocidades. Castellón é uma província cuja capital é Castellón de la Plana, sede do Playas, que pertence a província de Valencia. Cheguei no ginásio, vindo direto do aeroporto, num sábado a tarde e fui apresentado ao grupo. Eu fui cerca de uma semana depois da apresentação pois fiquei no Brasil dando entrada no visto de trabalho junto ao Consulado Espanhol no Rio de Janeiro. A primeira coisa que chamou a atenção foi a imponência do ginásio Ciutat de Castelló (foto acima) que tem capacidade para 6.000 pessoas sentadas. O ginásio poliesportivo pertence a prefeitura e dentro possui enfermaria, sala para controle anti-doping, vestiários amplos, todo o tipo de material (cones, bolas, arcos, etc.) e uma sala de musculação precária. Além do Playas, equipes profissionais de handebol e basquete também treinam e jogam lá. Essa é uma característica das equipes espanholas. Quase nenhuma possui ginásio próprio. Os clubes em termos de estrutura física se resumem a uma sede (escritório). Porém, diferente do Brasil, os ginásios de prefeituras por lá são espetaculares.
O principal patrocinador da equipe era a empresa Macer cujo presidente Augustín Poyatos era o manda-chuva da equipe. Na hierarquia da equipe e da empresa vinha o Pepe Miquel (vice-presidente) e depois o Manolo. Curioso é que este esquema é praticamente igual ao que acontece aqui no Carlos Barbosa.
A recepção do grupo foi ótima. Após o treino fui levado pelo gerente até a sede e recebi todo o material de treino e viagens. Era muita roupa. Eu ainda receberia mais a frente os agasalhos para o inverno. Outra diferença por lá é que tanto atletas como comissão técnica levam seu material para lavar em casa. Cada um é responsável por suas coisas. Exceto material de jogo que era levado pelo roupeiro Augustín, um senhor de idade muito simpático e que me ajudou muito por lá, para a lavanderia. No Brasil os atletas tem a cultura de esperar que o clube faça tudo por eles. Isso é uma herança negativa que herdamos do Futebol. No futuro haverá um post sobre este tema.
Havia muito trabalho pela frente. As informações que eu e o Padú (treinador brasileiro que vive há mais de 15 anos na Espanha) tínhamos era que o Playas era um time que chegava nos últimos anos na competições sempre como favorito mas que na hora H não vencia. O clube naquela temporada 1999-2000 tinha um dos maiores orçamentos (senão o maior) da División de Honor (1ª divisão) e tinha sido eliminado na semifinal da Liga nacional na temporada anterior pelo Industrias García (hoje Marfil Santa Coloma), uma equipe com orçamento muito inferior.
No Brasil temos o hábito de querer vencer sempre mesmo estando em equipe de porte inferior. No Playas estava impregnado o "medo de vencer". Pronunciar o nome "Boomerang Interviu" provocava calafrios em muitos da equipe, principalmente em membros da diretoria. O Interviu era considerado carrasco do Playas. Isso estava no ar e neste aspecto começou a aparecer o brilho do Padú como treinador. A história iria mudar...
Depois de ir até a sede do clube, o Padú me levou para almoçar quase as quatro da tarde. Estava faminto ! Finalmente fui para o apartamento. O Playas tem uma organização ótima quanto a moradia. Todos os atletas moravam em um condomínio bem confortável com piscina na mesma rua do ginásio. De casa até o local de trabalho não dá nem 2 minutos andando. Eu também morava lá. Só o treinador que normalmente mora em outro apartamento mas que ficava em frente ao condomínio. O Playas pagava aluguel e todas as contas do ap. (exceto telefone). Isso já vinha em contrato e dava uma segurança e alívio pois o salário entrava "limpo".
Depois de me deixar no apartamento o Padú me deixou descansando e avisou que voltaria a noite a fim de irmos jantar. No verão Castellón vira uma verdadeira cidade fantasma. Alguns estabelcimentos comerciais chegam a fechar o mês inteiro. Eu tive a péssima idéia de dormir um pouco pois o jet leg havia pegado firme. Eu durmo muito pouco em viagens. Não por medo e sim porque simplesmente não consigo. Pois é, o Padú não apareceu e eu apaguei. Acordei no meio da madrugada literalmente sem saber se estava no Brasil ou se a Espanha era só um sonho. Totalmente grogue olhei no relógio e vi que marcava duas da manhã. Pensei: Já era ! o cara veio aqui e eu apagado não ouvi o interfone. Tentei dormir e não consegui mais. Bateu a fome e o desespero pois dentro de casa não havia quase nada para comer. Arrisquei ir no ap. do Padú mas eu nem sabia o número. Quando olhei no interfone "1º direita, 2º izquierda..." Ferrou ! Após acordar uma moradora e arranhar um portunhol descobri o ap. do Padú que não estava em casa ! Que ótimo... eu com fome e sem moeda espanhola no bolso (peseta na época). Voltei pra casa e para minha sorte havia na geladeira um pouco se salsicha e pão. Isso foi o que sobrou do antigo morador (um goleiro que foi fazer teste no clube) e foi o que eu comi. Mais tarde eu descobrira o porque do sumiço Padú. infelizmente essa eu não posso contar...
No próximo post continuarei falando sobre minha jornada em terras espanholas.
Hasta Luego !

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Seguindo carreira solo




Quando o Tio Sam acabou em meados de 1998 terminei o segundo semestre daquele mesmo ano trabalhando como professor de musculação em academias e como preparador físico de um time de Futebol que atuava para empresários no Recreio dos Bandeirantes. Numa noite ao chegar em casa após o trabalho havia um recado escrito por minha mãe em cima da mesa: "Ligar para o Malafaia ainda hoje..." O que eu fiz prontamente. O Malafaia era treinador do Club Comary e já fazia um bom trabalho por lá. Eles haviam chegado em duas semifinais no Rio em dois anos seguidos. Na última haviam sido eliminados justamente pelo Tio Sam, meu ex-clube. Ele estava atrás de um preparador físico para a temporada de 1999 e ligou para o Diego pedindo informações minhas. Além disso o Hugo (treinador de goleiros do Tio Sam) era amigo dele e também deu uma força. A grana era curta. Cerca de R$ 400,00 para ir para Teresópolis (cidade serrana) que fica cerca de 100km do Rio três vezes por semana. Mas eu não pensei duas vezes.Sempre fui muito seguro em relação a propostas de trabalho. Assim fui parar na equipe serrana.
Para sacramentar o negócio eu e o Malafaia(foto)fomos de carro até Teresópolis onde fui apresentado ao supervisor da equipe, o Mário Silva. Conversa vai, conversa vem numa mesa de bar o Mário me pergunta: "Vc bebe?" Pensei "este cara está me testando.." e respondi inseguro "bebo uma cervejinha de vez em quando mas gosto mesmo é de caipirinha". "GRAÇAS A DEUS !!!" respondeu o Mário. "Passei três anos aguentando um preparador físico que não bebia e ainda por cima me criticava quando bebia com os atletas." Esse é o Mário, figuraça !
Além dos R$ 400 o pessoal do Rio recebia um valor para pagar pedágio e combustível. Na maioria das vezes eu ia de carro e às vezes de carona. Alguns amigos me chamavam de maluco por que três vezes por semana eu tinha que subir e descer a Serra e chegava em casa depois da meia-noite. No outro dia tinha que trabalhar em academias logo de manhã cedo. Aí é que entra minha filosofia. Você tem que apostar no trabalho e não ficar esperando as coisas virem do céu. Muitas pessoas, inclusive amigos meus da Educação Física, reclamam por falta de oportunidades. Mas as vezes não querem apostar ou ficam em casa esperando o telefone tocar. As coisas não funcionam assim... neste aspecto sou cético.
O grupo do Comary era em sua maioria formado por jogadores da cidade. Do Rio tinha o Fábio Cabeça e o Formiga. De Petrópolis tinham o Douglas, o Vinícius e o Léo.
O regime era semiprofissional. A maioria dos atletas trabalhava durante o dia e treinava a noite. O Club Comary tem uma estrutura fantástica mas é um clube social e a idéia de ter equipes desportivas lá dentro treinando não agradava muito os sócios.
Era o primeiro time que eu trabalhava como preparador físico titular e estava muito empolgado com isso. Uma vez por semana treinávamos em uma quadra de cimento descoberta. Gosto de relatar estas coisas pois algumas pessoas hoje me olham numa equipe de ponta com boa estrutura e pensam: trabalhar assim é mole ! Mas nem sempre foi assim. Eu fiz por merecer.
Lembram quando falei em apostar? Pois é. As oportunidades só surgem quando você está produzindo, está correndo atrás, está lutando. Em maio ou junho de 1998 (não lembro bem) recebi um telefonema do Diego (sempre ele !). O Paulo Eduardo (Padú)o convidara para uma equipe da Espanha. O Diego não queria mais sair do País e me indicou. E lá fui eu parar no Playas de Castellón, onde vivi uma das melhores experiências da minha vida pessoal e profissional e que será tema do meu próximo post.
O Comary foi a única equipe que eu não disputei títulos. Mais tarde eu descobriria que Teresópolis é uma cidade extremamente pé quente pra mim. De lá eu saí para a Espanha. De lá eu saí para Carlos Barbosa onde estou até hoje. O Mário Silva disse que dá próxima vez irá colocar uma cláusula rescisória no meu contrato. rsrsrs !
Tenho ótimas recordações daquele grupo de amigos que vivia como uma família. Sou muito grato ao pessoal de lá. Em especial ao Mário Silva e o Cacá. Foi nessa época que conheci o Felipe Conde que se tornaria meu amigo e um "filhote" na preparação física também.
Quanto ao Malafaia só posso dizer que somos grandes amigos até hoje. Isso diz tudo. Futuramente haverá um post dedicado a todas as pessoas que me ajudaram no esporte e ele certamente estará presente. Até a próxima. Abraço !

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O que é bom dura pouco

Antes de falar sobre minha ida para o Comary de Teresópolis, gostaria de falar um pouco mais sobre o Tio Sam. Este clube tinha em diversos setores várias pessoas que haviam trabalhado na extinta equipe do Bradesco que foi o grande precursor do profissionalismo no Futsal.

Inicialmente começou como Helênico - Tio Sam no Rio de Janeiro. Mais tarde ao se transferir para Niterói passou a contar com estrutura que poucas equipes mesmo nos dias atuais possuem. Os atletas treinavam em dois períodos. Após a primeira sessão de treino pela manhã, almoçavam no restaurante do clube e ficavam descansando nos alojamentos dentro do ginásio que ofereciam quartos com TV, beliches e ar condicionado. Após o treino da tarde cada atleta e membro da comissão também tinha direito a um lanche no mesmo restaurante, normalmente um misto quente com suco de laranja.

O complexo Tio Sam oferecia ginásio com quadra 40x20m., academia (Gym Center) com equipamentos importados (Paramount em sua maioria), esteiras, bicicletas, simuladores de escada, piscina exclusiva para hidroterapia, ônibus, campo de futebol, vestiários com hidromassagem aquecida e material farto (incluindo frequencímetros, Lactímetro, etc.). A sala de fisioterapia era completa e também ficava dentro do ginásio.

A maioria das viagens mais longas eram feitas de avião e os salários sempre eram pagos rigorosamente em dia. Além disso, havia premiação por títulos.

Outro ponto alto era a creche (anexo ao clube) AFETAK mantida pela D.Terezinha. As crianças carentes da região recebiam tratamento vip em salas, quartos e berçarios com ar condicionado e atendimento feito por psicólogas, pedagogas, dentistas, assistentes sociais e professoras qualificadas. Tudo de graça.

A Dona Terezinha era especialista em agradar os funcionários. Muito simpática, acompanhava o time com paixão. Nos finais de ano costumava sortear brindes como TV, Som, etc.

A diretoria do Tio Sam gostava de comemorar seus títulos, muitas vezes fechando churrascarias para jogadores, comissão, familiares e amigos.

O conceito família era bacana por lá. Em alguns amistosos eles liberavam as famílias (esposas, namoradas, etc.) para irem junto com a equipe. Após estes jogos sempre havia uma confraternização. Com tudo pago, é claro. Numa destas, fomos até Araruama jogar um amistoso. Com dificuldades para encontrar o ginásio paramos em um posto de gasolina para pedir informação. Subiu um sujeito completamente bêbado e começou a fazer um discurso achando que éramos uma equipe de Futebol de Campo. Era o prefeito da cidade...

Infelizmente os gestores decidiram interromper esta trajetória vitoriosa. O Tio Sam chegou a disputar novamente a Liga Nacional algum tempo depois mas sob a gestão de um outro grupo.

Dificilmente haverá outra equipe de Futsal no Brasil que ofereça condições de trabalho tão boas para atletas e comissão técnica.

Até o próximo post.


Um clube fechado - uma experiência traumática

Aeroporto Salgado Filho - Porto Alegre (1998)

O ano de 1998 começou muito bem. O Tio Sam tinha uma estrutura de fazer inveja. Ginásio com quadra 40x20m, vestiário com hidromassagem aquecida, academia com equipamentos importados, piscina exclusiva para fisioterapia, ônibus próprio para translados curtos, restaurante e alojamento dentro do clube, etc. Além disso havia arrendado o campo do Gragoatá que posteriormente seria cedido ao Botafogo. Também costumávamos fazer treinos físicos na praia de São Francisco. Nosso motorista, o "Da Roça" tinha sempre histórias incríveis pra contar e era um sujeito mal encarado porém muito divertido. Naquele ano o Tio Sam queria alçar voos mais altos no cenário nacional e para isso investiu em atletas como Cacau, Joan e Benatti e o Ivan que estava em Portugal. Na Taça Brasil fomos vice-campeões, perdendo para o timaço da GM dirigida pelo Ferretti na final. Naquela época foi a primeira vez que ouvi falar do profº João Carlos Romano, hoje preparador físico da Seleção Brasileira e da Malwee Futsal. O João e o Marco Freitas da Ulbra (e o Diego, é claro) passaram a ser minhas referências no futsal. Hoje tenho grande amizade, respeito e adimiração por ambos.

Na Liga Nacional daquele ano terminamos em 5º lugar. Saímos na 2ª fase e não classificamos para semifinal por pouco.

O esporte nos proporciona várias coisas. A primeira vez que andei de avião foi através do Tio Sam. E obviamente como todo iniciante empolgado bati fotos (acima). O Verdini que até hoje é professor universitário não poderia viajar com o grupo que iria enfrentar a Ulbra em Canoas e me comunicou que eu iria. Eu nunca viajava com o time. Sempre ficava com a tarefa de dar treino para os atletas que não estavam relacionados para as viagens. Mas sempre fui respeitado e eles faziam meus treinos numa boa. Tá certo que eu como "aspira" também não descascava muito os caras a fim de ganhar alguma moral. Mais tarde descobri por mim mesmo que este não é bem o caminho.

O voo foi tranquilo e até engraçado pois alguns atletas morriam de medo de avião e faziam caretas incríveis durante a decolagem e o pouso o que de certa forma me descontraiu. O Jorge, nosso massagista (Botafoguense doente !) tomou todas durante o voo. De cerveja a Cinzano... Que sujeito a toa... Ficamos no antigo hotel da rede Alfred (hoje extinto) no centro de Porto Alegre. O jogo foi inesquecível. Fomos bem desfalcados para Canoas pois no jogo anterior contra a ASBAC em Brasília o tempo fechou e tivemos vários jogadores expulsos. Encaramos a Ulbra com vários garotos no banco: Jorginho (Ex PEC e Vassouras), Fabiano (Ex Garça, PEC), Geó (hoje Policial Militar), Felipe Neguinho (acho que está na Espanha). Vencemos o timaço da Ulbra por 7x5 com nosso "expressinho". Vale lembrar que a Ulbra estava completa e naquele ano seria a campeã da Liga vencendo o Carlos Barbosa na final. Foi uma festa ! Por telefone o Dalê (Dalessandro, filho adotivo do Sr. Antônio e D.Terezinha, patronos do clube) disse ao Luiz Carlos para liberar uma grana pro pessoal comemorar. A maioria, como eu, foi para no Dado Bier de Porto Alegre.

Foi no Tio Sam que em 1998 eu comprei meu primeiro carro. Um Chevette 1985 que era da família do Benatti desde 0km e passou dos pais para os filhos. O Benatti facilitou o pagamento e assim pude ter meu primeiro "chevelinho".

Em 1998 surgiu outra força no Rio de Janeiro e na Liga Nacional: o Iate/kaiser que trouxe atletas de ponta como Vander Carioca, Waguinho, Sandrinho, Serginho e Julio Cesar, chamados pelo fisioterapeuta Robério de "Power Rangers". Isso de certa forma incomadava e muito o Tio Sam que via sua hegemonia no Estado ser ameaçada.

Para piorar a situação numa manhã "tranquila" como outra qualquer eu cheguei no clube cedo pois a sessão de treino era comigo (treino físico na quadra). Quando solicitei o material para o roupeiro ele me disse: "O Tio Sam acabou !!! " Obviamente achei que fosse sacanagem da parte dele pois era muito brincalhão. Infelizmente não era... além do surgimento do Iate e de uma pressão interna (na família) para acabar com Futsal e investir em Futebol, o Dalessandro que era o filho mais próximo dos jogadores (e mais querido também) havia cometido suicídio. Este fato abalou a estrutura da família gestora do clube e tenho certeza que foi fundamental para o término do clube apesar de nunca terem falado nada a respeito.

De repente me vi ali sentado na escada de acesso ao ginásio, estarrecido, dando a notícia aos atletas que chegavam para treinar. Houve uma reunião rápida e muito comovente no vestiário onde o Sr.Orlando Canito comunicou a todos o fim da era Tio Sam. Até o treinador Gérson Tristão foi pego de surpresa. A tristeza e o pavor tomou conta de todos. O que fazer de agora em diante ? Estávamos no meio do ano ainda. Daquele dia triste no vestiário o que trago de lembrança boa foram as palavras do meu amigo Mauro Brasília que com lágrimas nos olhos ainda buscou forças para consolar a todos e deu exemplos a respeito do que é ser profissional no dia a dia. Grande capitão !

Felizmente no segundo semestre de 1998 a maioria dos atletas do Tio Sam se empregou no Vasco da Gama que começava a investir mais forte. O Gérson Tristão nunca mais quis saber de futsal tamanha a decepção. O Verdini seguiu com suas inúmeras aulas no munícipio e Universidade. Eu continuei com minhas aulas em academias e numa clube de empresários no Recreio Futebol Clube, que tinha como sócios os ex-zagueiros do Flamengo Rogério e Gelson Baresi. Naquele segundo semestre se 1998 em relação ao futsal eu estava na "Dança dos Desempregados" como diria Gabriel, o Pensador. Eu só voltaria a trabalhar com futsal no início de 1999, no Club Comary de Teresópolis, tema do meu próximo post.

Ah, pra fazer justiça em relação ao post anterior, gostaria de agradecer ao Hugo, treinador de goleiros, que foi um grande parceiro da época de Tio Sam. E também queria recordar o Nenéu, roupeiro que mais matou avós na história do futsal ! E que também "fulminava" com cuspes quem sentasse a sua frente por conta de um "tic nervoso" devido a um trauma de infância. O Wallace que adorava sentar na frente dele na hora do almoço ! rsrsrs !


Como tudo começou...

TIO SAM E.C. - 1997-1998. Aqui é o marco zero da minha trajetória como preparador físico de futsal.
Esq. para Direita (em Pé): Fernandinho, Lúcio, Silami, Jovita, Mauro Brasília, Taffarel, Benatti, Fabiano, Wallace, Felipe, Harrison, Orlando Canito, Marcelo (Fisio), Gerson Tristão (treinador) e Luis Carlos (supervisor).
Agachados: Joan, Cazuza, Alex, Jorginho, D.Terezinha, Ivan, Max, Cacau, George, Lavoisier, Marcelo (roupeiro), Verdini (P.Físico), Jorge (massagista) e Hugo (trein. Goleiros)
Em 1997, eu, universitário do 7º período do curso de Ed.Física da Universidade Gama Filho (UGF), recebi o primeiro convite para trabalhar com equipes desportivas. Meu professor de treinamento desportivo II (Alexandre Palma) havia recebido um pedido de um amigo dele, peruano radicado há anos no Brasil, o Diego, que precisava de um estagiário para trabalhar com Basquete masculino nas categorias infanto e juvenil no C.R. Vasco da Gama. Há tempos eu "perturbava" o profº Alexandre em busca de um estágio no esporte. Eu tinha necessidade de por em prática os conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula. E vejam vocês... Justo no dia que o Alexandre perguntou em sala de aula quem estaria interessado no estágio lá no Vasco eu faltei. Um grande irmão meu, o Luiz Carlos ficou interessado. Mas o profº Alexandre me indicou do mesmo jeito. Aí que entra o MESTRE Diego Jose Garcia Venegas na minha vida. O Luiz ligou primeiro mas ele ficou com os dois ! Como éramos (e somos !) muito amigos topamos o desafio juntos. Por telefone eu disse pro Diego: "Eu quero uma chance no esporte, não importa se irei receber ou não." O Vasco não pagava nada mesmo mas o Diego depois de um tempo começou a pagar um salário mínimo do bolso dele (50% pra cada um) o que era uma ajuda e tanto. Hoje em dia sou muito crítico aos graduandos em relação aos estágios. O pessoal que está no 2º período e não sabe nem a diferença entre um côndilo e um epicôndilo já quer remuneração. O estágio é um complemento da formação. Mas isso é assunto pra depois...
Eu, rubro-negro que sou, comecei no Vasco, nosso maior rival. Coisas do esporte. Lá no Vasco, o Diego que era prep. físico do Futebol e também de Futsal no Tio Sam nos perguntou se estávamos interessados em estagiar na equipe de Futsal de Niterói. O Luiz disse de cara que não podia pois ajudava o pai numa loja da família. Eu topei no ato. Eu já estava no 8º período na UGF e só tinha aulas as terças, quintas e sábados. E o estágio era segundas, quartas e sextas pela manhã. Sorte ? Destino? Sei lá... só sei que eu não tinha a menor pretensão de trabalhar com Futsal. Como a maioria que pretendia ser preparador físico meu negócio era o Futebol e se possível no meu time do coração, o Flamengo.
Lembro muito bem do meu 1º dia no Tio Sam. Para chegar até o clube que fica no Barreto em Niterói-RJ precisava pegar dois ônibus e pobre de quem perdesse o segundo que passava praticamente de hora em hora. Desci no ponto errado, andei muito (e até corri para não chegar atrasado no 1º dia !) e finalmente achei o clube. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a estrutura do clube com instalações modernas. Quando cheguei o grupo da categoria principal já estava na quadra aguardando o início do treino. O primeiro atleta a me cumprimentar foi o Guilherme da Silva: "Satisfação, Cazuza !" Uma semana antes eu o vira num jogo da Liga Nacional pela TV.
Fiquei no Tio Sam do segundo semestre de 1997 (estagiário) até o término repentino de sua trajetória, já como auxiliar de preparação física, em meados de 1998. Esta experiência traumática eu conto depois. Lá convivi com feras como Cazuza, Cacau, Joan, Lavoisier, Benatti, Mauro Brasília e tantos outros.
Os mestres Diego e Alexandre Palma foram grandes propulsores e incentivadores de minha carreira. No Tio Sam encontrei outras pessoas que me ajudaram muito como o preparador físico Newton Martins, o supervisor Luis Carlos, o gerente Orlando Canito, o treinador Gérson Tristão e já em 1998 o profº Luiz Verdini. Além da receptividade excelente por parte dos atletas, alguns dos quais tenho contato até hoje.
A todos vocês, meu muito obrigado ! Uma coisa que jamais devemos esquecer é de quem nos ajudou lá atrás. O saudoso Ricardo Lucena costumava dizer: "O mundo da bola é redondo... quando estiver por cima, não esqueça que um dia já esteve por baixo e um dia você pode voltar pra lá..." Sábias palavras professor !
O Tio Sam era o papa-títulos do Rio de Janeiro e mantinha uma hegemonia estadual que já durava sete anos se não me engano. A minha primeira final foi do metropolitano de 1997 contra o Iate Clube da Ilha do Governador. E perdemos... com um gol do Bocão de tiro livre (12 metros naquela época) na prorrogação. O Jogo foi no Miécimo da Silva em Campo Grande, bairro da zona oeste que de tão longe do centro, muitos acham que é um município. Putz ! Será que sou pé frio? pensei... No estadual demos o troco e tiramos o Iate na semifinal. A final foi contra o Vasco e vencemos bem. Houve ainda um jogo extra Tio Sam (vencedor do estadual) contra o Iate (vencedor do metropolitano) no ginásio do Olaria. Esse jogo foi realizado na semana entre o Natal e o Ano Novo em 1997 e definiu quem iria representar o estado na Taça Brasil de Clubes de 1998. O Tio Sam venceu de goleada e neste dia soube pelo supervisor que o clube contava comigo para o ano seguinte.