sábado, 27 de fevereiro de 2010
Um curso para toda a vida
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Sentindo na pele a teoria da bola
O tempo e a experiência nos ensinam muitas coisas. Mas aos 26 anos eu não tinha noção disso ainda. E quebrei a cara. Entrou em cena a teoria da roda gigante. Ou, fazendo um paralelo com o Futsal, a teoria do mundo da bola que já citei em outra ocasião, onde ora se está por cima, ora por baixo.
No meu caso posso garantir que não foi presunção ou marra. Eu simplesmente achava que tudo iria dar certo em função daquele título que poderia impulsionar minha carreira. Só que Espanha e Brasil são dois mundos diferentes. Para falar a verdade muita gente do meio nem sabia que eu estava lá e que havia ajudado o Playas com seu primeiro título.
O segundo semestre de 2000 foi um período muito duro. Eu tinha apenas um emprego em uma academia no Rio e com carga horária muito baixa. A grana que eu guardei na Espanha ajudou por um tempo mas não muito. As oportunidades não apareciam por mais que fizesse contatos com amigos pedindo ajuda.
Engraçado como normalmente um problema desencadeia outros. Naquela fase negra tudo ia mal. No final do ano surgiu uma luz no final do túnel. Mas era para um novo recomeço. E eu fui, guerreiro novamente, encarar mais novo desafio.
Era a segunda vez que voltava ao Vasco da Gama. Agora como preparador físico do Basquete feminino (infanto e juvenil). O salário era baixíssimo mas fui convencido por meu amigo Diego a apostar no trabalho. As treinadoras eram nada mais, nada menos que a Maria Helena (adulto) e Heleninha (base). Aquelas que levaram o Brasil a conquista do Pan em Havana e que receberam as medalhas das mãos do próprio Fidel Castro. Foi nesse período que conheci o João Nunes, preparador do adulto feminino e da seleção feminina também. Um grande profissional e grande amigo.
Novo esporte, novos desafios. No próximo post vou contar um pouco da minha passagem pelo Basquete, do aprendizado que tive com estas duas mulheres magníficas e sobre a experiência de trabalhar com atletas do sexo feminino.
Sobre a segunda metade de 2000 eu poderia dizer que foi um semestre para se esquecer. Negativo! Hoje que estou numa bem melhor, sempre procuro recordar que já estive na parte de baixo da roda gigante e que pra lá não quero voltar. Isso me motiva a não relaxar no trabalho, não cair no comodismo. Chegar ao alto nível eu já cheguei e saí algumas vezes. Nos últimos anos estou conseguindo o mais difícil que é manter-se no topo.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Tá pegando fogo !
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Confraternização
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Titular ? Eu ?!!
Confesso que nunca vi nada parecido. O menino se transformou. Sem exageros, até a cor dos seus lábios mudaram. Ele não ficou com medo. Ele ficou apavorado ! O resultado foi que num exercício simples de aquecimento onde em duplas os atletas trocavam passes rasteiros de uma ala a outra, o garoto pisou na bola e torceu o tornozelo sozinho. E não foi uma entorse qualquer. O tornozelo inchou bastante e ele não só ficou fora daquela partida como ficou de molho no departamento médico por um bom tempo.
No esporte de alto nível existe uma grande diferença entre o boleiro que é aquele cara que quer viver no mundo da bola, ser badalado pelas meninas, usar roupas de marca, etc. e o atleta que se dedica não só nos treinamentos como fora também. Este último esta preparado para os desafios. Existe ainda o "intermediário" que é o que treina, se dedica e até joga muito bem alguns jogos, mas em decisões desaparece. Este rapaz foi procurar emprego no ano seguinte. O alto nível não era pra ele.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Playas 3 - Campeón de Liga !
Comemorando com o fisioterapeuta Ramón
Volta olímpica no Ciutat de Castelló
Nem o presidente escapou do banho
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Playas - parte 2
Durante a Liga Nacional, temporada 1999-2000, o Playas deu um verdadeiro banho. Aos poucos a equipe foi amadurecendo e adquirindo mentalidade vencedora. Não posso afirmar pois não tenho os dados de outras temporadas mas aquela campanha que fizemos na Liga foi uma das melhores de todos os tempos senão a melhor. Perdemos apenas duas partidas e fora de casa. Para o Caja Segovia, do treinador Venancio atualmente na seleção espanhola e que tinha craques como Luis Amado, Daniel, Orol e Riquer. Esse time ainda era o multi-campeão do momento (Liga, Copa, Europeu e Mundial). E também para o Interviu que tinha o Vinícius e o Choco como estrangeiros e como falei antes era o terror castellonense. Além disso fomos campeões da liga regular, um título simbólico para quem soma mais pontos na primeira fase, com melhor ataque e defesa menos vazada.
Nosso time tinha um elenco muito qualificado. Confesso que não conhecia quase ninguém, nem mesmo os brasileiros que já atuavam há anos na Espanha. Os destaque eram Javi Rodriguez (atual capitão da seleção espanhola), Javi Sanchez, Lorente e os brasileiros Cupim, Edésio e Paulinho. Estes brasileiros foram fundamentais no meu processo de adaptação ao clube e à Espanha. Os caras me ajudaram de verdade e sou muito agradecido aos três e suas respectivas esposas por tudo que fizeram por mim. Sempre que possível mantemos contato. O Paulinho já parou de jogar e até hoje vive na Espanha. O Edésio também parou e está no Brasil. O Cupim ainda atua em alto nível defendendo o Petrópolis. Nossa comissão era formada pelo Padú, Eu (Prep. físico e 2º treinador), Ramón (fisioterapeuta), Dr. Medina (médico) e o Augustín "Viejo" como roupeiro. Todos muito qualificados e competentes.
Durante a Liga nosso goleiro titular me dava medo e tirava o sono do treinador. Era um bom goleiro mas que levava uns frangos terríveis. O reserva era bom mas custava a emagrecer e achava que tomando sete cocas no jantar iria entrar em forma. Neste dia contei as sete garrafas na mesa e brinquei com o grupo. Para minha surpresa todas eram do goleiro. Ainda bem que eram garrafas do tipo caçulinha (200ml)... Brincadeiras a parte, engrossamos com ele. Na fase de mata-mata (Play Off) o goleiro titular resolver fechar o gol. E nos ajudou e muito a conquistar o título.
O Playas era apontado como franco favorito. Naquele ano as forças na Espanha em relação a orçamento e elenco eram Playas, El Pozo, Interviu, Caja Segovia e Talavera. Fomos para a Copa de España como favoritos também. No sorteio começamos mal e pegamos o El Pozo logo de cara. A Copa naquela época era disputada pelos oito primeiros colocados ao final do 1º turno da fase regular da Liga. A Liga tinha 16 equipes que jogavam entre si em turno e returno (fase regular). Ao final, os oito primeiros colocados disputavam o play off em sistema de mata-mata. Com jogos em melhor de 3 nas quartas de final e semifinal e melhor de 5 partidas na grande final. Voltando à Copa, levamos 4x1 do El Pozo na abertura do torneio (fora o baile) e fomos eliminados. A partir daquela competição começaram a questionar o trabalho do Padú internamente (alguns somente, diga-se de passagem) e a cama dele começava a ficar pronta sem que soubesse. Aliás, nenhum de nós da comissão suspeitava disso.
O sonho do primeiro título da história do Playas tinha ido por água abaixo novamente. Todos os fantasmas voltaram. Retornamos com força total na Liga e terminamos em 1º a fase regular. Isso garantiu o emprego do Padú. Tínhamos o mata-mata pela frente e a dúvida se alguns dariam a resposta necessária. A história mudou e durante o play off demos um show e isso será o assunto do próximo post.
Playas - de time perdedor a uma campanha histórica
O principal patrocinador da equipe era a empresa Macer cujo presidente Augustín Poyatos era o manda-chuva da equipe. Na hierarquia da equipe e da empresa vinha o Pepe Miquel (vice-presidente) e depois o Manolo. Curioso é que este esquema é praticamente igual ao que acontece aqui no Carlos Barbosa.
A recepção do grupo foi ótima. Após o treino fui levado pelo gerente até a sede e recebi todo o material de treino e viagens. Era muita roupa. Eu ainda receberia mais a frente os agasalhos para o inverno. Outra diferença por lá é que tanto atletas como comissão técnica levam seu material para lavar em casa. Cada um é responsável por suas coisas. Exceto material de jogo que era levado pelo roupeiro Augustín, um senhor de idade muito simpático e que me ajudou muito por lá, para a lavanderia. No Brasil os atletas tem a cultura de esperar que o clube faça tudo por eles. Isso é uma herança negativa que herdamos do Futebol. No futuro haverá um post sobre este tema.
Havia muito trabalho pela frente. As informações que eu e o Padú (treinador brasileiro que vive há mais de 15 anos na Espanha) tínhamos era que o Playas era um time que chegava nos últimos anos na competições sempre como favorito mas que na hora H não vencia. O clube naquela temporada 1999-2000 tinha um dos maiores orçamentos (senão o maior) da División de Honor (1ª divisão) e tinha sido eliminado na semifinal da Liga nacional na temporada anterior pelo Industrias García (hoje Marfil Santa Coloma), uma equipe com orçamento muito inferior.
No Brasil temos o hábito de querer vencer sempre mesmo estando em equipe de porte inferior. No Playas estava impregnado o "medo de vencer". Pronunciar o nome "Boomerang Interviu" provocava calafrios em muitos da equipe, principalmente em membros da diretoria. O Interviu era considerado carrasco do Playas. Isso estava no ar e neste aspecto começou a aparecer o brilho do Padú como treinador. A história iria mudar...
Depois de ir até a sede do clube, o Padú me levou para almoçar quase as quatro da tarde. Estava faminto ! Finalmente fui para o apartamento. O Playas tem uma organização ótima quanto a moradia. Todos os atletas moravam em um condomínio bem confortável com piscina na mesma rua do ginásio. De casa até o local de trabalho não dá nem 2 minutos andando. Eu também morava lá. Só o treinador que normalmente mora em outro apartamento mas que ficava em frente ao condomínio. O Playas pagava aluguel e todas as contas do ap. (exceto telefone). Isso já vinha em contrato e dava uma segurança e alívio pois o salário entrava "limpo".
Depois de me deixar no apartamento o Padú me deixou descansando e avisou que voltaria a noite a fim de irmos jantar. No verão Castellón vira uma verdadeira cidade fantasma. Alguns estabelcimentos comerciais chegam a fechar o mês inteiro. Eu tive a péssima idéia de dormir um pouco pois o jet leg havia pegado firme. Eu durmo muito pouco em viagens. Não por medo e sim porque simplesmente não consigo. Pois é, o Padú não apareceu e eu apaguei. Acordei no meio da madrugada literalmente sem saber se estava no Brasil ou se a Espanha era só um sonho. Totalmente grogue olhei no relógio e vi que marcava duas da manhã. Pensei: Já era ! o cara veio aqui e eu apagado não ouvi o interfone. Tentei dormir e não consegui mais. Bateu a fome e o desespero pois dentro de casa não havia quase nada para comer. Arrisquei ir no ap. do Padú mas eu nem sabia o número. Quando olhei no interfone "1º direita, 2º izquierda..." Ferrou ! Após acordar uma moradora e arranhar um portunhol descobri o ap. do Padú que não estava em casa ! Que ótimo... eu com fome e sem moeda espanhola no bolso (peseta na época). Voltei pra casa e para minha sorte havia na geladeira um pouco se salsicha e pão. Isso foi o que sobrou do antigo morador (um goleiro que foi fazer teste no clube) e foi o que eu comi. Mais tarde eu descobrira o porque do sumiço Padú. infelizmente essa eu não posso contar...
No próximo post continuarei falando sobre minha jornada em terras espanholas.
Hasta Luego !
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Seguindo carreira solo
Quando o Tio Sam acabou em meados de 1998 terminei o segundo semestre daquele mesmo ano trabalhando como professor de musculação em academias e como preparador físico de um time de Futebol que atuava para empresários no Recreio dos Bandeirantes. Numa noite ao chegar em casa após o trabalho havia um recado escrito por minha mãe em cima da mesa: "Ligar para o Malafaia ainda hoje..." O que eu fiz prontamente. O Malafaia era treinador do Club Comary e já fazia um bom trabalho por lá. Eles haviam chegado em duas semifinais no Rio em dois anos seguidos. Na última haviam sido eliminados justamente pelo Tio Sam, meu ex-clube. Ele estava atrás de um preparador físico para a temporada de 1999 e ligou para o Diego pedindo informações minhas. Além disso o Hugo (treinador de goleiros do Tio Sam) era amigo dele e também deu uma força. A grana era curta. Cerca de R$ 400,00 para ir para Teresópolis (cidade serrana) que fica cerca de 100km do Rio três vezes por semana. Mas eu não pensei duas vezes.Sempre fui muito seguro em relação a propostas de trabalho. Assim fui parar na equipe serrana.
Para sacramentar o negócio eu e o Malafaia(foto)fomos de carro até Teresópolis onde fui apresentado ao supervisor da equipe, o Mário Silva. Conversa vai, conversa vem numa mesa de bar o Mário me pergunta: "Vc bebe?" Pensei "este cara está me testando.." e respondi inseguro "bebo uma cervejinha de vez em quando mas gosto mesmo é de caipirinha". "GRAÇAS A DEUS !!!" respondeu o Mário. "Passei três anos aguentando um preparador físico que não bebia e ainda por cima me criticava quando bebia com os atletas." Esse é o Mário, figuraça !
Além dos R$ 400 o pessoal do Rio recebia um valor para pagar pedágio e combustível. Na maioria das vezes eu ia de carro e às vezes de carona. Alguns amigos me chamavam de maluco por que três vezes por semana eu tinha que subir e descer a Serra e chegava em casa depois da meia-noite. No outro dia tinha que trabalhar em academias logo de manhã cedo. Aí é que entra minha filosofia. Você tem que apostar no trabalho e não ficar esperando as coisas virem do céu. Muitas pessoas, inclusive amigos meus da Educação Física, reclamam por falta de oportunidades. Mas as vezes não querem apostar ou ficam em casa esperando o telefone tocar. As coisas não funcionam assim... neste aspecto sou cético.
O grupo do Comary era em sua maioria formado por jogadores da cidade. Do Rio tinha o Fábio Cabeça e o Formiga. De Petrópolis tinham o Douglas, o Vinícius e o Léo.
O regime era semiprofissional. A maioria dos atletas trabalhava durante o dia e treinava a noite. O Club Comary tem uma estrutura fantástica mas é um clube social e a idéia de ter equipes desportivas lá dentro treinando não agradava muito os sócios.
Era o primeiro time que eu trabalhava como preparador físico titular e estava muito empolgado com isso. Uma vez por semana treinávamos em uma quadra de cimento descoberta. Gosto de relatar estas coisas pois algumas pessoas hoje me olham numa equipe de ponta com boa estrutura e pensam: trabalhar assim é mole ! Mas nem sempre foi assim. Eu fiz por merecer.
Lembram quando falei em apostar? Pois é. As oportunidades só surgem quando você está produzindo, está correndo atrás, está lutando. Em maio ou junho de 1998 (não lembro bem) recebi um telefonema do Diego (sempre ele !). O Paulo Eduardo (Padú)o convidara para uma equipe da Espanha. O Diego não queria mais sair do País e me indicou. E lá fui eu parar no Playas de Castellón, onde vivi uma das melhores experiências da minha vida pessoal e profissional e que será tema do meu próximo post.
O Comary foi a única equipe que eu não disputei títulos. Mais tarde eu descobriria que Teresópolis é uma cidade extremamente pé quente pra mim. De lá eu saí para a Espanha. De lá eu saí para Carlos Barbosa onde estou até hoje. O Mário Silva disse que dá próxima vez irá colocar uma cláusula rescisória no meu contrato. rsrsrs !
Tenho ótimas recordações daquele grupo de amigos que vivia como uma família. Sou muito grato ao pessoal de lá. Em especial ao Mário Silva e o Cacá. Foi nessa época que conheci o Felipe Conde que se tornaria meu amigo e um "filhote" na preparação física também.
Quanto ao Malafaia só posso dizer que somos grandes amigos até hoje. Isso diz tudo. Futuramente haverá um post dedicado a todas as pessoas que me ajudaram no esporte e ele certamente estará presente. Até a próxima. Abraço !
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
O que é bom dura pouco
Um clube fechado - uma experiência traumática
O ano de 1998 começou muito bem. O Tio Sam tinha uma estrutura de fazer inveja. Ginásio com quadra 40x20m, vestiário com hidromassagem aquecida, academia com equipamentos importados, piscina exclusiva para fisioterapia, ônibus próprio para translados curtos, restaurante e alojamento dentro do clube, etc. Além disso havia arrendado o campo do Gragoatá que posteriormente seria cedido ao Botafogo. Também costumávamos fazer treinos físicos na praia de São Francisco. Nosso motorista, o "Da Roça" tinha sempre histórias incríveis pra contar e era um sujeito mal encarado porém muito divertido. Naquele ano o Tio Sam queria alçar voos mais altos no cenário nacional e para isso investiu em atletas como Cacau, Joan e Benatti e o Ivan que estava em Portugal. Na Taça Brasil fomos vice-campeões, perdendo para o timaço da GM dirigida pelo Ferretti na final. Naquela época foi a primeira vez que ouvi falar do profº João Carlos Romano, hoje preparador físico da Seleção Brasileira e da Malwee Futsal. O João e o Marco Freitas da Ulbra (e o Diego, é claro) passaram a ser minhas referências no futsal. Hoje tenho grande amizade, respeito e adimiração por ambos.
Na Liga Nacional daquele ano terminamos em 5º lugar. Saímos na 2ª fase e não classificamos para semifinal por pouco.
O esporte nos proporciona várias coisas. A primeira vez que andei de avião foi através do Tio Sam. E obviamente como todo iniciante empolgado bati fotos (acima). O Verdini que até hoje é professor universitário não poderia viajar com o grupo que iria enfrentar a Ulbra em Canoas e me comunicou que eu iria. Eu nunca viajava com o time. Sempre ficava com a tarefa de dar treino para os atletas que não estavam relacionados para as viagens. Mas sempre fui respeitado e eles faziam meus treinos numa boa. Tá certo que eu como "aspira" também não descascava muito os caras a fim de ganhar alguma moral. Mais tarde descobri por mim mesmo que este não é bem o caminho.
O voo foi tranquilo e até engraçado pois alguns atletas morriam de medo de avião e faziam caretas incríveis durante a decolagem e o pouso o que de certa forma me descontraiu. O Jorge, nosso massagista (Botafoguense doente !) tomou todas durante o voo. De cerveja a Cinzano... Que sujeito a toa... Ficamos no antigo hotel da rede Alfred (hoje extinto) no centro de Porto Alegre. O jogo foi inesquecível. Fomos bem desfalcados para Canoas pois no jogo anterior contra a ASBAC em Brasília o tempo fechou e tivemos vários jogadores expulsos. Encaramos a Ulbra com vários garotos no banco: Jorginho (Ex PEC e Vassouras), Fabiano (Ex Garça, PEC), Geó (hoje Policial Militar), Felipe Neguinho (acho que está na Espanha). Vencemos o timaço da Ulbra por 7x5 com nosso "expressinho". Vale lembrar que a Ulbra estava completa e naquele ano seria a campeã da Liga vencendo o Carlos Barbosa na final. Foi uma festa ! Por telefone o Dalê (Dalessandro, filho adotivo do Sr. Antônio e D.Terezinha, patronos do clube) disse ao Luiz Carlos para liberar uma grana pro pessoal comemorar. A maioria, como eu, foi para no Dado Bier de Porto Alegre.
Foi no Tio Sam que em 1998 eu comprei meu primeiro carro. Um Chevette 1985 que era da família do Benatti desde 0km e passou dos pais para os filhos. O Benatti facilitou o pagamento e assim pude ter meu primeiro "chevelinho".
Em 1998 surgiu outra força no Rio de Janeiro e na Liga Nacional: o Iate/kaiser que trouxe atletas de ponta como Vander Carioca, Waguinho, Sandrinho, Serginho e Julio Cesar, chamados pelo fisioterapeuta Robério de "Power Rangers". Isso de certa forma incomadava e muito o Tio Sam que via sua hegemonia no Estado ser ameaçada.
Para piorar a situação numa manhã "tranquila" como outra qualquer eu cheguei no clube cedo pois a sessão de treino era comigo (treino físico na quadra). Quando solicitei o material para o roupeiro ele me disse: "O Tio Sam acabou !!! " Obviamente achei que fosse sacanagem da parte dele pois era muito brincalhão. Infelizmente não era... além do surgimento do Iate e de uma pressão interna (na família) para acabar com Futsal e investir em Futebol, o Dalessandro que era o filho mais próximo dos jogadores (e mais querido também) havia cometido suicídio. Este fato abalou a estrutura da família gestora do clube e tenho certeza que foi fundamental para o término do clube apesar de nunca terem falado nada a respeito.
De repente me vi ali sentado na escada de acesso ao ginásio, estarrecido, dando a notícia aos atletas que chegavam para treinar. Houve uma reunião rápida e muito comovente no vestiário onde o Sr.Orlando Canito comunicou a todos o fim da era Tio Sam. Até o treinador Gérson Tristão foi pego de surpresa. A tristeza e o pavor tomou conta de todos. O que fazer de agora em diante ? Estávamos no meio do ano ainda. Daquele dia triste no vestiário o que trago de lembrança boa foram as palavras do meu amigo Mauro Brasília que com lágrimas nos olhos ainda buscou forças para consolar a todos e deu exemplos a respeito do que é ser profissional no dia a dia. Grande capitão !
Felizmente no segundo semestre de 1998 a maioria dos atletas do Tio Sam se empregou no Vasco da Gama que começava a investir mais forte. O Gérson Tristão nunca mais quis saber de futsal tamanha a decepção. O Verdini seguiu com suas inúmeras aulas no munícipio e Universidade. Eu continuei com minhas aulas em academias e numa clube de empresários no Recreio Futebol Clube, que tinha como sócios os ex-zagueiros do Flamengo Rogério e Gelson Baresi. Naquele segundo semestre se 1998 em relação ao futsal eu estava na "Dança dos Desempregados" como diria Gabriel, o Pensador. Eu só voltaria a trabalhar com futsal no início de 1999, no Club Comary de Teresópolis, tema do meu próximo post.
Ah, pra fazer justiça em relação ao post anterior, gostaria de agradecer ao Hugo, treinador de goleiros, que foi um grande parceiro da época de Tio Sam. E também queria recordar o Nenéu, roupeiro que mais matou avós na história do futsal ! E que também "fulminava" com cuspes quem sentasse a sua frente por conta de um "tic nervoso" devido a um trauma de infância. O Wallace que adorava sentar na frente dele na hora do almoço ! rsrsrs !